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Quando você descobriu que foi chamado para servir como líder na igreja local –  seja sozinho ou com um equipe, seja em tempo parcial ou integral – quais eram as primeiras imagens que habitavam a sua mente a respeito do ministério? Se alguém te perguntasse naquele tempo o significado de ser líder na igreja local, o que você diria?

Contudo, agora que você já está há algum tempo no ministério talvez já tenha ficado claro que além dessas atividades que são centrais e essenciais você também dedica várias horas de sua semana a atividades que parecem inteiramente estranhas ao ministério: planejamento, organização, supervisão, formação de equipes, acompanhamento de líderes, projetos, burocracia, relatórios, agenda, estratégia, seleção de pessoas, treinamento e uma série de outras atribuições que pareceriam caber melhor na semana de um executivo.

Descobrimos com o passar dos anos que por mais que possamos delegar algumas dessas funções para outras pessoas para nos dedicarmos com mais intensidade ao ensino, a pregação e ao cuidado, na maioria dos contextos é impossível ao líder da igreja local – em especial se for de fato o líder sênior da equipe ou o presidente – transferir absolutamente todas as responsabilidades de gestão.

A grande ironia é que apesar de passarmos grande parte de nosso tempo liderando e gerindo, o fato é que geralmente os líderes da igreja local tem uma sólida formação em teologia e outras disciplinas relacionadas ao trabalho pastoral, mas possuem uma frágil e superficial formação no que diz respeito a gestão, liderança, produtividade, estratégia e outras disciplinas essenciais relacionadas ao saber administrativo e que são bastante importantes para se liderar bem uma igreja local.[1]

A maioria de nós recebeu apenas um treinamento inicial nos conteúdos mais básicos em gestão, liderança, produtividade e estratégia, e algumas vezes nem mesmo isso. Como resultado falta a muitos líderes da igreja local uma formação mais robusta e sólida em gestão organizacional que nos permita planejar, organizar, liderar, gerenciar e coordenar com eficácia.

Como resultado, muitos líderes cristãos estão sobrecarregados pois adotam a estratégia de trabalhar mais e mais e mais para fazer frente as demandas do ministério.

Aubrey Malphurs afirma que “o problema não é o que os seminários ensinam mas o que eles não ensinam. Muitos seminários ensinam a Bíblia e teologia, e é imperativo que o façam. Entretanto, eles frequentemente não proveem treinamento forte em liderança, habilidades interpessoais, habilidades de pensamento estratégico e isso resulta em uma pobre preparação para o ministério nos dias atuais”.[2]

“O problema não é o que os seminários ensinam mas o que eles não ensinam” (Malphurs)

Segundo Robert Welch, os líderes cristãos estão sofrendo no exercício de seus ministérios devido à falta de preparação em áreas relacionadas à gestão, o que por sua vez indica uma lacuna na educação ministerial.[3]

Bruce Powers concorda que as mudanças das últimas décadas tornaram mais claro do que nunca que o cenário atual demanda que os líderes cristãos recebam treinamento adequado nas disciplinas da gestão e da liderança.[4]

A respeito da necessidade da atualização da educação de futuros pastores e ministros, Martyn Dunning diz que tem havido um extenso debate sobre a necessidade de líderes cristãos desenvolverem habilidades de gerenciamento e como conduzir melhor a igreja local.[5]

Vale destacar que o ritmo intenso das mudanças em escala global tem causado o mesmo fenômeno em outros campos: no campo de gerenciamento de projetos estudiosos tem alertado para a necessidade da atualização do ensino e treinamento de gerentes de projeto em face das mudanças das últimas duas décadas.[6]

Com relação a veracidade dessa lacuna, nós mesmos sabemos ela é real e o que ela causa. A maioria de nós recebeu no seminário teológico apenas um treinamento básico nas áreas de gestão, liderança, produtividade e estratégia, e algumas vezes nem mesmo isso. Como resultado muitos de nós entramos no ministério com deficiências críticas nas áreas de gestão organizacional. A maioria absoluta dos líderes cristãos iniciam sua prática ministerial sem os conhecimentos e habilidades necessários para planejar, organizar, liderar, gerenciar e coordenar com eficiência e eficácia.

A maioria de nós recebeu no seminário teológico apenas um treinamento básico nas áreas de gestão, liderança, produtividade e estratégia, e algumas vezes nem mesmo isso.

De fato, ao comparar a formação tradicional de um líder eclesiástico – seja ela o seminário ou a faculdade de teologia – e a prática do dia-a-dia do ministério na igreja local veremos essa lacuna. A maioria dos cursos destinados a preparação de líderes para o ministério enfatizam grandemente disciplinas relacionadas a formação teológica, ao preparo de sermões e as tarefas relativas ao ensino e cuidado pastoral. Contudo, na maioria dos casos os conteúdos relativos ao preparo para gerenciar, liderar, planejar, organizar, coordenar e executar são pequenos ou as vezes inexistentes. [7]

Nas últimas décadas inúmeras obras tem demonstrado a existência de uma lacuna na formação na área de gestão, liderança, produtividade e estratégia da maioria dos líderes eclesiásticos e como isso acaba acarretando prejuízos para o ministério da igreja local, para o próprio líder e para a sua família.[8]

O resultado dessa lacuna de formação em gestão é que muitos líderes eclesiásticos sentem que há sempre mais coisas para fazer do que tempo para fazê-las, o fluxo de trabalho semanal é confuso e instável, o trabalho torna-se uma repetição de movimentos cíclicos mas sem objetivos definidos com base em uma compreensão estratégica maior e por aí vai…

O quadro se torna ainda pior quando consideramos líderes cristãos que trabalham em grandes centros: a intensidade do ritmo do grande centro aliado aos problemas de segurança e mobilidade; os vazamentos de tempo em pequenos processos diários e repetitivos; a agenda lotada das pessoas e o consequente esvaziamento do voluntariado; a tecnologia que faz as tarefas mais rápidas, mas que multiplica insanamente o número de tarefas a serem feitas.

Muitos líderes cristãos se sentem como um soldado deixado no campo de batalha sem qualquer arma, munição ou recurso. É uma sensação apavorante de estar no meio do caos do dia-a-dia do ministério sem treinamento nem ferramentas para lidar de maneira adequada com as demandas incessantes da igreja local.

Depois de algum tempo vem o cansaço, a sensação de andar em círculo, a depressão, o Burnout e outros sintomas alarmantes. As altas taxas de frustração ministerial, desânimo, angústia e stress entre pastores é resultado em grande parte da inadequação gerencial: a incapacidade de planejar, executar, liderar e gerir com eficácia.

O resultado é prejudicial não apenas para os líderes, mas para toda a igreja pois sabemos que líderes sobrecarregados, estafados, desmotivados, estressados e a beira de um colapso não conseguem dar sua contribuição essencial para que a igreja possa ser tudo que ela pode ser.

O que podemos fazer diante desse quadro? O que podemos fazer diante do fato de que muitos líderes eclesiásticos tem lacunas de formação nas áreas de gestão, liderança, produtividade e estratégia?


[1] MALPHURS, Aubrey. Advanced Strategic Planning. Grand Rapids: Baker Books, 2013, p.9

[2] MALPHURS, Aubrey. Advanced Strategic Planning. Grand Rapids: Baker Books, 2013, p.9

[3]WELCH, Robert H. Church Administration: Creating Efficiency for Effective Ministry. Nashville: B&H Publishing, 2011, p.vii

[4]POWERS, Bruce P. (Editor). Church Administration Handbook. Nashville: B&H Publishing, 2008, p.xiii

[5] DUNNING, Martyn Philip. Applying management theory to the local church. 1994. PhD Thesis. Durham University, p.5

[6] PANT, I., & BAROUDI, B. (2008). Project management education: The human skills imperative. International Journal of Project Management, 26(2), 124-128.

[7] WELCH, Robert H. Church Administration: Creating Efficiency for Effective Ministry. Nashville: B&H Publishing Group, 2011, p.IX

[8] ANTHONY, Michael; ESTEP, James R. (ed.). Management essentials for Christian ministries. B&H Publishing Group, 2005; WIMBERLEY, John W., Jr. The Business of the Church: The Uncomfortable Truth that Faithful Ministry Requires Effective Management. Alban Institute, 2010; BACHER, Robert; COOPER-WHITE, Michael L. Church administration: Programs, process, purpose. Fortress Press, 2007.

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