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Todos nós sabemos o que é tentar virar o jogo anos a fio: tentamos cortar atividades, balancear nossa agenda, ter mais saúde e mais equilíbrio. Lemos livros, procuramos respostas e tentamos mudar algumas coisas, mas voltamos sempre ao mesmo lugar de exaustão, excesso de trabalho e um sentimento de que estamos afundando em um mar de ineficiência, como se estivéssemos andando em círculos, sem qualquer progresso real em nosso ministério.

Afinal, ainda é possível acreditar na mudança? É possível resgatar o sonho de ter um ministério frutífero e contribuir para que a igreja local possa ser tudo que ela pode ser? É possível construir um ministério relevante sem utilizar a família, o casamento e a própria saúde como se fosse combustível fóssil para o motor da igreja local?

Só é possível superar um problema quando acertamos o diagnóstico da causa do problema. Sem um diagnóstico verdadeiro e preciso não podemos traçar nenhum tipo de curso de ação que seja efetivo para resolver o problema.

Portanto, a questão mais crucial nessa reflexão é a seguinte: o que estará na raiz dessa epidemia de Burnout, estafa e depressão entre líderes cristãos?

O tema de resolução de problemas é muito frequente dentro do universo da gestão. Peter Drucker, um dos pais da administração moderna, escreveu um clássico intitulado “O Gestor Eficaz” no qual afirma que muitas vezes olhamos para um problema e o tratamos como algo isolado ao invés de perceber que na verdade estamos diante de um sintoma – ou sintomas –  de um problema maior.[1]

A questão é que tentar tratar um sintoma em si mesmo sem compreender o que está por trás é como cortarmos o galho de um limoeiro esperando resolver o problema dos limões caindo no nosso quintal. É fácil prever que enquanto as raízes do limoeiro estiverem no solo será apenas uma questão de tempo até os limões voltarem.

Por isso mesmo Drucker afirma que precisamos olhar para cada problema diante de nós encarando-os primeiro como sintomas do verdadeiro problema. Será que o que pensamos ser uma situação excepcional e isolada na verdade não é apenas um sintoma dentre uma série de outros sintomas do verdadeiro problema?

Costumamos pensar nos problemas da igreja de maneira isolada, mas a igreja, a semelhança de outras instituições, é um sistema orgânico, uma teia sistêmica de relações. Peter Senge escreveu o clássico chamado “A Quinta Disciplina” na qual difundiu o pensamento sistêmico e afirmou: não podemos compreender um sistema olhando suas partes individuais, mas precisamos visualizar o todo complexo da organização.[2]

Será que o que pensamos ser uma situação excepcional e isolada na verdade não é apenas um sintoma dentre uma série de outros sintomas do verdadeiro problema?

Entretanto, desenvolver essa visão sistêmica não é fácil. Segundo Daniel Goleman o pensamento sistêmico não é intuitivo, não é natural para as pessoas.[3] Goleman afirma que possuímos uma cegueira sistêmica e mostra que muitos líderes implementam uma estratégia para resolver um sintoma específico, mas falham em compreender o sistema em um aspecto maior e por isso suas soluções remediam apenas pequenos sintomas, mas não mudam a dinâmica do sistema por inteiro, ou seja: não resolvem o verdadeiro problema.[4]

No entanto, o líder sistêmico olha para o todo e busca compreender a organização de forma integradora e holística a fim de enxergar o que está por trás dos sintomas e assim desenvolver estratégias que atuam na causa dos problemas, agindo na raiz das questões.[5]

Um processo de anamnese e investigação consiste em analisar as evidências dos sintomas e construir hipóteses diagnósticas relevantes para em seguida testá-las. A hipótese diagnóstica com a qual vamos trabalhar é a seguinte: geralmente os líderes da igreja local tem uma sólida formação em teologia e outras disciplinas relacionadas ao trabalho pastoral, mas possuem uma frágil e superficial formação no que diz respeito a gestão, liderança, produtividade, estratégia e outras disciplinas essenciais relacionadas ao saber administrativo e que são bastante importantes para se liderar bem uma igreja local.[6]

A maioria de nós recebeu apenas um treinamento inicial nos conteúdos mais básicos em gestão, liderança, produtividade e estratégia, e algumas vezes nem mesmo isso. Assim, muitos líderes da igreja local não possuem uma formação robusta e sólida em gestão organizacional que os permita planejar, organizar, liderar, gerenciar e coordenar com eficácia.

Como resultado, muitos estão sobrecarregados pois adotam uma estratégia de tamanho único frente as demandas do ministério: trabalhar mais e mais e mais, até violarem os limites de seus corpos e mentes.

Muitos líderes estão exaustos e desanimados, sem direção em seus ministérios, andando em círculos e se frustrando cada vez mais com o clima de ineficácia e com a falta dos resultados mínimos esperados mesmo apesar dos esforços repetidos e sofridos.

Para muitos é apenas uma questão de tempo até que cheguem ao seu limite: o diagnóstico de uma depressão, prejuízos para o casamento e a família, prejuízos para a saúde, desistência do ministério.

Sei bem que este diagnóstico pode soar como uma verdade desconfortável, como afirmou John Wimberley.[7] Muitos de nós leremos essas linhas com certa desconfiança, certa ressalva e até mesmo indignação, pois nossa formação e a cultura eclesiástica da maioria de nós nos dizem que gestão e produtividade são coisas para empresas e executivos, e a igreja não é uma empresa e nem nós somos executivos.

Quero afirmar categoricamente: eu concordo plenamente! A igreja não é uma empresa, mas possui um lado organizacional que torna essas questões relevantes.

Tendo em vista o diagnóstico que estou propondo, a solução está no desafio do líder da igreja local de aprender como aplicar conhecimentos, técnicas e ferramentas de gestão em sua produtividade pessoal e também em sua liderança na igreja local de maneira a ser mais eficaz pessoal e coletivamente.[8]

Esse é o propósito desse site: ser uma interface entre o mundo da gestão organizacional e o contexto da igreja local para que líderes cristãos possam integrar conhecimentos, técnicas e ferramentas de gestão aos seus ministérios com o objetivo de trazer mais eficiência, relevância e sustentabilidade para si mesmos, suas famílias e para suas igrejas.


[1] DRUCKER, Peter F. O Gestor Eficaz. Rio de Janeiro: LTC, 2015, p.154

[2] SENGE, Peter. A Quinta Disciplina. Rio de Janeiro: Best Seller, 2009, p.31

[3] GOLEMAN, Daniel. Foco: A atenção e seu papel fundamental para o sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014, p.135

[4] GOLEMAN, Daniel. Foco: A atenção e seu papel fundamental para o sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014, p.139

[5] GOLEMAN, Daniel. Foco: A atenção e seu papel fundamental para o sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014, p. 225

[6] MALPHURS, Aubrey. Advanced Strategic Planning. Grand Rapids: Baker Books, 2013, p.9

[7] WIMBERLEY, John W., Jr. The Business of the Church: The Uncomfortable Truth that Faithful Ministry Requires Effective Management. Alban Institute, 2010.

[8] GANGEL, Kenneth O.  Feeding and Leading: Practical Handbook on Administration for Churches and Christian Organizations. Baker Books, 1989.

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